IR + IR

17.11.2008 16:18

VAI IR NÍCIUS?

12.09.2008 17:04

 

Por: Federico Polastri

"Podem preparar

Milhões de festas ao luar

Que eu não vou ir

Melhor nem pedir

Que eu não vou ir, não quero ir".

Vinícius de Moraes

Inicialmente é necessário estabelecer que até agora não pensara realmente em escrever este artigo. A materialização do mesmo deve-se ao acaso. Viajando por um site de língua portuguesa do professor Cláudio Moreno à procura de opiniões acerca do uso de “ter de” e “ter que” e das hipóteses que giravam em torno desta questão para tentar gerar debate, li o comentário que havia sobre “vou ir” e decidi mudar o rumo. É que fiquei atônito quando percebi que a dificuldade com esta locução verbal não era apenas nossa. Até então pensava que esta ocorrência acontecia com os falantes de espanhol principalmente, visto que tal construção revela-se cotidianamente na perífrase “voy a ir”, e que ao falarmos em português, tornava-se difícil a não enunciação da mesma. Mas ao que parece, no português também ocorre, mas há divergência quanto ao uso. Para clarificar e sustentar o que aqui comento, decidi reunir algumas opiniões atuais sobre o assunto em questão.

Vejamos os exemplos abaixo*:

1. Consulta

"Caro Professor Moreno: a minha dúvida é quanto ao uso da expressão "vou ir". O senhor escreveu, em uma resposta a outro internauta, que esta tal forma (é uma locução verbal?) seria condenada por gramáticos tradicionais. Gostaria de compreender melhor a razão para tal condenação. Há quem tenha tentado dar uma explicação dizendo que não se pode usar o mesmo verbo como verbo auxiliar e verbo principal. Contudo, sempre achei que a locução "tenho tido", por exemplo, não ferisse as regras da gramática. Obrigada."

Andréa

Resposta

Minha cara Andréia: tens toda a razão: há vários exemplos de locução verbal, em nossa língua, em que aparece o mesmo verbo, tanto na posição de auxiliar quanto na de principal; os mesmos fariseus que condenam "vou ir" aceitam "há de haver", "vinha vindo", "tinha tido". É evidente que o verbo só tem o seu significado pleno, originário, quando está na posição de principal; em "há de haver uma solução para este problema", o auxiliar (há) exprime a idéia de "desejo" (leia-se: eu gostaria que houvesse) ou de "obrigatoriedade" (leia-se: deve haver), enquanto o principal é que tem o sentido usual de "existir". Já falei sobre isso quando analisei a locução vinha vindo.

2. Consulta

"Prezado Prof. Moreno, estou com uma dúvida: afinal de contas, a expressão "vou ir" - muito utilizada no Rio Grande do Sul - está correta ou não? Eu penso que não; ele acha que sim. Podemos dizer "vou fazer", "vou trabalhar", etc., dando idéia de futuro, mas "vou ir"?? Obrigado e novamente parabéns pelo trabalho!

Rodrigo

Resposta

No caso de "vou ir", Rodrigo, vem agregar-se um outro fato lingüístico muito importante: a forma preferida de expressar o futuro, no Português moderno, é uma locução verbal com a estrutura ["ir" no pres. do indicativo + qualquer verbo no infinitivo]. Essa estrutura (vou sair, vou poder, vou ficar, vou ser) concorre com outras possibilidades, também usadas, mas em menor escala: (1) o próprio presente do indicativo ("Amanhã eu posso", "No ano que vem eu saio"); (2) o futuro do presente (sairei, poderei, ficarei, serei); (3) a locução [verbo haver + infinitivo]: hei de sair, tu hás de entender.

Estudos atualizados mostram que as hipóteses (2) e (3) são, no fundo, no fundo, a mesmíssima coisa. [...] Exemplifico: pega "eu hei de comprar, tu hás de comprar, ele há de comprar" e inverte a ordem dos verbos: "comprar hei, comprar hás, comprar há"; uma pequena adaptação ortográfica e terás "comprarEI, comprarÁS, comprarÁ".

[...]

O que está acontecendo no Português moderno, ao que parece, é uma troca de auxiliar: em vez de usar o auxiliar haver, como nas hipóteses (2) e (3) acima, estamos utilizando cada vez mais o auxiliar ir. Isto é: quando queremos expressar a idéia de futuro, ou empregamos o presente do indicativo (menos usado) ou empregamos a locução [vou + infinitivo]. Como todo e qualquer verbo pode, em tese, ocupar a casa da direita, vão formar-se locuções do tipo vou vir, vou ir. Erradas elas não são; podem soar ainda um pouco estranho para muitos ouvidos, mas muitos outros já se acostumaram a elas, inclusive escritores e compositores de renome. Só para adoçar toda essa explicação, dou um exemplo saudoso, de um escritor de respeito: Vinícius de Moraes, na música "Você e Eu", feita em parceria com Carlos Lyra, usou, muito simplesmente (e em dose dupla):

"Podem preparar

Milhões de festas ao luar

Que eu não vou ir

Melhor nem pedir

Que eu não vou ir, não quero ir".

3. Consulta

A frase "Pode esperar, eu vou ir, sim!" está correta?

Resposta

"Vou ir" é uma locução verbal cujos verbos são os mesmos (ir + ir). Luiz Antônio Sacconi diz que os verbos "ir" e "vir" podem ser auxiliares de si próprios, desde que haja uma justificativa. Se a frase fosse "Pode esperar, eu já vou indo, sim!" a locução verbal acrescentaria um aspecto verbal novo ao seu sentido. O emissor da frase já está a caminho quando responde à pergunta. Já a frase do leitor me parece um pleonasmo vicioso, pois a locução verbal nada acrescenta ao sentido da frase. Seria melhor construí-la assim: "Pode esperar, eu vou (ou irei), sim!". "Vou ir" parece mais uma fuga do uso do futuro do presente do indicativo, tão pouco falado na língua coloquial.

* Fonte: https://www.sualingua.com.br/01/01_pergunte_indice.htm
*
Fonte: http:/ / www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=tira_duvidas/docs/tira-duvidasv

A partir das respostas dos acadêmicos, pode-se inferir que não há unanimidade quanto ao uso de “vou ir”. Como o artigo ficou extenso, por causa das perguntas e das respostas extratadas dos sites, concluo estabelecendo algumas indagações finais:

Vocês usam ou rejeitam tal construção?

Alguma vez foram corrigidos ao enunciá-la?

Quais os argumentos dados?

Em nossa LM é lícita tal perífrase normativamente falando?

A construção “vou ir”, considera-se um pleonasmo ou o segundo elemento incide semanticamente no primeiro?

Em que situações comunicativas o brasileiro costuma usar tal recurso?

Usa-se em todas as regiões do Brasil?

Finalmente, abro um novo debate em torno da locução verbal “vou ir” para que possamos dialogar sobre este fenômeno lingüístico na seção de CL.

Forte abraço para todos! Espero comentários.

Revisão: O. Regueira.

Colaboração: G.E. Puglia.

 

Frede.

 

Fecha 07.10.2008

Por Paulo

Asunto: Respuesta

De fato, não me parece adequada essa estrutura. Se há certeza qto. à realização futura da ação verbal, emprega-se o futuro simples do indicativo: "Estarei aí amanhã", "Comparecerei com certeza ao encontro" e "Irei até a praça no horário combinado". Se há apenas intenção, a estrutura é "vou" + verbo no infinitivo, com em "Vou construir a casa", "Vamos estar aí amanhã" e "Vou comer toda a sobremesa". Se o verbo no infinitivo é "ir", ficaria o mesmo verbo na forma finita e no infinitivo: "Vou ir". Neste caso, se há apenas intenção, é apropriado dizer "Vou à reunião amanhã", em que o presente do indicativo expressa ação futura.

Abraço do Paulo Hernandes
www.paulohernandes.pro.br

Fecha 02.10.2008

Por Nélida

Asunto vou ir

Assistam ao vídeo no site https://www.almacarioca.com.br/lingua.htm em que o escritor João Ubaldo Ribeiro fala sobre a língua e dá sua opinião sobre o uso da estrutura "vou ir".
Obrigada Júlia pela ajuda.

Abraços
Nélida

Fecha 29.09.2008

Por Sírio

Asunto: Resposta

Caro federico,
Ouça as análises do Prof Moreno, e NUNCA as do Prof. Sacconi. A contrução "vou ir" é construção corrente, embora talvez não seja utilizada uniformemente (ou na mesma escala) no país todo.
O erro de Sacconi é elementar: em ir + ir não há pleonasmo, porque os dois verbos são "diferentes" (um é auxiliar e o outro indica movimento, deslocamento).

Abraços
Sírio

Fecha 29.09.2008

Por Marcos

Asunto: Resposta

Caro Federico,
é claro que a construção "vou ir" existe no português brasileiro, porque ela decorre naturalmente da formação do futuro perifrástico com "ir + infinitivo". No entanto, por causa de um estúpido patrulhamento escolar, as pessoas instruídas evitam usar "vou ir" (e "vou vir"), sob o pretexto de que é redundante etc. Essas mesmas pessoas, porém, não percebem que também existe uma (aparente) contradição em usos como "vou ficar", "vou parar" etc. Na canção de Vinícius, ele usou o "não vou ir" porque fazia parte do projeto estético da bossa nova usar a "coloquialidade" do português brasileiro, numa recusa da escrita parnasiana que caracterizava as canções brasileiras até os anos 1950. Então, o fato é esse: "vou ir" existe, é empregado por todas as pessoas de todas as regiões, mas existe uma tentativa (nem sempre exitosa) dos falantes mais letrados de evitá-la.
Um abraço,
Marcos Bagno

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IR + IR

Fecha 20.07.2010

Por Karoll

Asunto Ir + Ir

Responder

Eu nunca gostei de usar essa expressão, me soa muito estranho. Pode ser que seja coerente, mas da dúvida, prefiro não utilizar, já que nosso português permite outros caminhos para se dizer a mesma coisa.
Dentre as várias regras gramaticais, o português eventualmente apresenta exceções nelas. Então se há uma regra quanto à utilização de verbos semelhantes, por que não pode(m) haver exceção(ções) também?

Fecha 13.04.2010

Por mónica

Asunto ir+ir

Responder

Pena que ainda acreditemos na autoridade de alguns professores. Agora fiquei mais confusa que antes. Me ensinarom que era proibido dizer vou+ir.
Carinhos
Mónica