O uso das preposições "a" e "para" com sentido de direção é um dos claros exemplos da distância que existe entre o uso normal brasileiro e a prescrição da gramática normativa. Segundo a tradição gramatical, usa-se "a" para indicar uma estada temporária, passageira, com possível retorno: "Vou a Madri e volto em dois meses", e usa-se "para" com o sentido de permanência: "Vou para Madri trabalhar e viver lá". No entanto, os usos reais do português brasileiro há muito já estabeleceram outras regras. A preposição "a" na maioria das variedades do português brasileiro está em desuso, sendo substituída por "para". Assim, no lugar de "dei o livro a Pedro" dizemos "dei o livro para Pedro", "telefonei ao José" dizemos "telefonei para o José". A preposição "a" também vem sendo substituída em outros usos pela preposição "em". Assim, expressões como "descansar à sombra", "falar ao telefone", "cair ao chão" etc. são muito mais frequentemente usadas com "em": "descansar na sombra", "falar no telefone", "cair no chão" etc. Essa mesma preposição "em" se usa também para indicar movimento: "vou no banheiro", "cheguei em Buenos Aires", "vamos no cinema" etc. O sentido de estada temporária ou de permanência acaba sendo explicitado por outros elementos do enunciado, como o tempo verbal e os advérbios.
Um abraço,
Marcos Bagno